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Pai ensinando filho esporte sem pressao

Levar para treinos, acompanhar campeonatos e se preocupar quando os pequenos caem em campo faz parte da rotina de pais que apoiam os filhos no esporte. Um estudo publicado na revista científica Journal of Physical Education aponta que o incentivo e o envolvimento da família tem importante papel na vida esportiva de crianças e adolescentes. O suporte dos familiares está ligado ao aumento de confiança dos atletas e até mesmo à permanência na prática esportiva. No entanto, é comum vermos cenas de pais gritando nas arquibancadas sem parar ou familiares impondo uma rotina massacrante aos filhos. Tais comportamentos fazem pensar sobre os limites do apoio prestado pelos responsáveis na trajetória esportiva dos pequenos.

Pensando nisso, o EU Atleta conversou com a psicóloga infantil Amanda Cestari Covre e o psicólogo do esporte Anderson Malmonge, que explicam como encontrar um equilíbrio no envolvimento dos responsáveis na vida esportiva dos filhos. Além disso, os especialistas dão dicas essenciais para manter uma relação saudável com os pequenos. Conversamos também com o pai da jogadora de futebol Cléo Emilly, Kleyton Marçal, que conta como é acompanhar os treinos e jogos da filha de 11 anos.

Pai e filha dividem uma paixão em comum: o futebol — Foto: Arquivo pessoal/ Kleyton Marçal

Qual a importância de apoiar os filhos no esporte?

Para o psicólogo do esporte Anderson Malmonge, os pais e responsáveis são os principais influenciadores no processo de iniciação de práticas esportiva e desenvolvimento futuro dos filhos no esporte. Segundo o profissional, a influência acontece desde quando estão presentes nas escolhas dos filhos de começarem a praticar esportes, bem como no incentivo e acompanhamento ao longo do desenvolvimento esportivo.

Os pais podem tanto ser facilitadores dos processos relacionados ao esporte como dificultadores. Facilitam quando agregam e se colocam disponíveis para o crescimento e evolução dos seus filhos, os incentivando e respeitando suas motivações, escolhas e momentos. No entanto, são dificultadores quando impõem pressões ou não incentivam os filhos, fazendo assim papel contrário do que se espera por parte dos pais ou responsáveis — explica o psicólogo.

Apoio dos pais é fundamental para incentivar os pequenos, mas é importante encontrar um equilíbrio para manter a relação com o esporte saudável

12 dicas para um apoio sem pressão

  1. Respeitar o tempo e interesse dos menores em relação ao esporte;
  2. Acompanhar rotinas de treinamentos e competições;
  3. Jogar com eles, em ritmo de brincadeira;
  4. Não transformar derrotas em algo de que a criança deva se envergonhar, elas fazem parte do jogo;
  5. Mostrar interesse sem exagerar nas cobranças;
  6. Estar presente em eventos e situações importantes, sejam elas de preparação ou da própria competição;
  7. Verificar com regularidade as necessidades dos filhos, ou seja, se estão precisando de algum tipo de atenção especial sobre alguma questão específica, seja no âmbito do esporte e/ou da vida pessoal;
  8. Aconselhar e acompanhar a alimentação, descanso, treinamento e questões relacionadas a prevenção de lesões;
  9. Criar uma rotina que concilie a vida escolar com a prática esportiva, sem excessos;
  10. Conversar sobre a importância do respeito nas relações com técnico, colegas de equipe e adversários;
  11. Não projetar seus próprios desejos e sonhos na criança;
  12. Lembrar sempre que criança tem que ter tempo livre no seu dia.

A potiguar Cléo Emilly, de 11 anos, começou a jogar bola com o pai Kleyton. Ele a levava para assistir aos jogos do bairro e aproveitou para ensinar a filha a dar os primeiros passes depois das partidas. Hoje, Cléo sonha em ser jogadora de futebol. A pequena faz parte de uma escola de futebol e treina semanalmente. Com o pai, ela continuou praticando a modalidade em um quadra de futebol do bairro. É Kleyton quem leva Cléo para a escola de futebol, ele também acompanha os treinos e compra os acessórios para a prática esportiva. Além disso, o pai sempre está nas arquibancadas em dias de jogos torcendo pela filha.

Eu sou um pai mais tranquilo nos jogos, não costumo ficar gritando. Na hora das partidas o que temos que dar é apoio sempre, eu nunca peço para ela bater ou fazer faltas. Sobre a rotina, antes de tudo, lembro que ela é criança, as atividades que faço para ela melhorar na maioria das vezes é como brincadeira. Em todos os jogos, antes dela entrar em campo, a única coisa que falo é: ‘vai lá e se divirta’. Quando acaba a partida, jogando bem ou mal, sempre dou os parabéns, pois sei que ela deu tudo de si — conta Kleyton.

O estudo citado no início da matéria analisou o envolvimento familiar no processo de desenvolvimento esportivo de 31 atletas de basquete feminino de um clube esportivo no estado de Santa Catarina. A pesquisa concluiu que os familiares das participantes apresentaram um envolvimento moderado na rotina esportiva, que consiste na presença nas partidas, apoio emocional, financeiro e pressão por determinadas atitudes em treinamentos. O nível moderado de envolvimento apontado no estudo revelou ter contribuído para construção de um ambiente favorável ao desenvolvimento positivo da atletas de basquete participantes da pesquisa.

O papel dos pais na vida esportiva dos filhos

Pais devem apoiar as decisões esportivas do filho — Foto: Getty Images

A psicóloga infantil Amanda Cestari afirma que sem o apoio dos pais, muitas crianças não conseguiriam praticar atividades esportivas e, por isso, acha importante o envolvimento dos responsáveis nesse processo.

— O envolvimento positivo dos pais na prática esportiva dos filhos pode ajudar a desenvolver habilidades importantes, como autoestima, motivação e habilidades sociais. Essas qualidades podem ser levadas para outras áreas da vida, por exemplo, na escola e nas atividades extracurriculares. Portanto, a importância do papel que os pais desempenham na realização esportiva da criança é indiscutível, mas é preciso ter cautela para não prejudicar a diversão e o desenvolvimento esportivo da criança — aponta Amanda.

Para Anderson Malmonge, no âmbito do esporte, o incentivo é fundamental, principalmente por essas práticas terem contribuições no desenvolvimento global do ser humano, seja em aspectos físicos, psicológicos, emocionais, cognitivos e sociais. Segundo o psicólogo, a regularidade da prática de esportes pode ser vista tanto com um meio de promoção de saúde e bem-estar, como também voltada para objetivos mais específicos, quando os pais, bem como a criança ou adolescente, possuem motivações para desenvolverem uma carreira esportiva.

— É importante que exista equilíbrio necessário para não forçar os praticantes a desempenharem suas atividades sem que tenham interesse e motivação real para aquilo. É muito comum pais e/ou responsáveis, projetarem em seus filhos e filhas um sonho não realizado de terem se tornado atletas. Assim, podem exercer comportamentos prejudiciais quando cobram muito dos filhos, com exigências e motivações que no fundo são mais dos adultos do que dos jovens — lembra Anderson.

Pressão demais pode prejudicar a relação do filho com o esporte

Deixar o filho escolher o esporte que quer praticar é um comportamento que pode incentivar a pratica esportiva dos pequenos — Foto: Getty Images

De acordo com Amanda Cestari, na maioria das vezes, são os pais que acabam escolhendo o esporte que a criança deve praticar. Devido a isso, acabam cobrando muito de seus filhos para um desempenho exemplar, fazendo com que a criança fique cada vez mais tensa e pressionada para ser a melhor ou o destaque entre os demais. Esse comportamento pode levar a criança a desistir da prática ou não fazer os movimentos da modalidade de maneira correta por não gostar. Cestari explica que isso normalmente ocorre quando os pais escolhem um esporte relacionado inicialmente a eles mesmos e não a criança. Seja por ter praticado a modalidade em algum momento ou por ter isso como um sonho a se realizar, projetando esse desejo na própria criança.

Malmonge explica que a pressão excessiva sobre os filhos em suas práticas esportivas pode causar diversos problemas. Um deles está relacionada a uma sobrecarga à criança, que pode estar mais motivada a praticar o esporte como forma de lazer, e não necessariamente com ideais mais voltadas para âmbito competitivo profissional.

— Crianças e jovens podem estar mais motivados em participar do esporte do que necessariamente ganhar. Se a exigência por treinamento, desempenho e vitórias forem muito acentuadas, as crianças e jovens podem ficar psicologicamente e fisicamente esgotados. Isso pode causar problemas como ansiedade, depressão, desmotivação, bem como problemas relacionados a desgastes físicos e lesões. Em casos mais graves, pode levar a desistência da prática esportiva. Assim, é fundamental que os pais não exijam dos filhos, mas sim demostrem afeto, carinho e cuidado para escutar esses menores em seus processos de desenvolvimento esportivo — afirma o psicólogo.

Como não passar dos limites

De acordo com Anderson, o diálogo com os filhos sobre suas motivações para com o esporte é um fator importante. Ele afirma que, no desdobrar das práticas esportivas, os jovens podem confirmar interesses em se tornar atletas, como também podem revelar aos responsáveis que possuem um outro sonho de vida, que pode não estar relacionado com uma vida profissional esportiva. Cabe aos responsáveis serem compreensivos e aceitarem seus filhos e filhas, sabendo que, se o esporte não for necessariamente um sonho profissional, pode ser uma prática levada para a vida com viés voltado a saúde.

— Os pais e responsáveis que compreendem e respeitam seus filhos e filhas estão possibilitando um desenvolvimento valioso e saudável, de maneira que contribua para um caminho e escolha autêntica de sua vida pessoal e profissional — afirma o psicólogo.

Para Amanda Cestari, permitir que o filho escolha o esporte a qual deseja praticar e com qual intensidade é um comportamento que pode incentivar as crianças na prática esportiva.

— Não é porque ele sabe e pretende praticar alguma atividade que deve ser realizado em um ritmo intenso. É importante entender e compreender os limites de seu filho. Outro comportamento positivo é perguntar sobre o progresso no esporte que ele pratica e questioná-lo sobre as expectativas dele em relação a essa atividade em especial — aponta a psicóloga.

Anderson reforça que os pais podem recorrer a ajuda de profissionais de educação física, técnicos, psicólogos esportivos, entre outros profissionais, para ajudá-los nesse processo de desenvolvimento esportivo no que diz respeito às dificuldades e facilidades do curso.

— Esses profissionais têm conhecimento e especialidade para contribuir no desenvolvimento dos jovens desde cedo até etapas mais avançadas da prática esportiva, podem aconselhar tanto atletas, quanto pais sobre como lidarem com questões diversas relacionadas ao esporte — explica o psicólogo.

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